Katsushika Hokusai (1760-1849) |
Dar é dar.
Fazer amor é lindo,
é sublime,
é encantador,
é esplêndido,
mas dar é bom pra cacete.
te chama de nomes que eu não escreveria,
não te vira com delicadeza,
não sente vergonha de ritmos animais.
Gervex Henri (1852-1929) |
Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar,
sem querer apresentar pra mãe,
sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral,
te amolece o gingado, te molha o instinto.
Editorial |
Dar porque a vida de uma publicitária em começo de carreira
é estressante, e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou
depois de amanhã.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos,
sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para as mais desavisadas, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazia.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do
escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece
querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar,
para apresentar pra mãe,
pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que
cê acha amor?".
Dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda,
muito mais do que
qualquer coisa,
uma chance ao amor, esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa,
cura o mau humor,
ameniza todas as crises e faz você flutuar
o suficiente pra nem perceber as catarradas na rua.
Se você for chata, suas amigas perdoam.
Se você for brava, suas amigas perdoam.
Até se você for magra, as suas amigas perdoam.
Mas... experimente ser amada."
Luís Fernando Veríssimo
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